3 desafios do Corporate Venture Building que emperram a inovação em grandes empresas
Rodrigo Bürgers • nov. 24, 2021

Explorar novos mercados e investir na criação de negócios, produtos e serviços que não necessariamente estejam relacionados ao seu core é caminho obrigatório para grandes empresas que queiram continuar no jogo.


O estudo 2021 global report: The state of new-business Building, da McKinsey, revela que CEOs de grandes empresas preveem que, até 2026, metade de suas receitas virá de produtos, serviços ou negócios que ainda não foram criados. O levantamento indica ainda que a criação de negócios é a prioridade número 1 para 21% dos executivos e está entre as três maiores prioridades para 55% deles (praticamente o dobro do que era entre 2018 e 2020).


Não é difícil entender o motivo. Sabemos bem que, se uma empresa descobre uma dor e não consegue propor um “remédio” para o consumidor, haverá sempre uma startup capaz de fazer isso. E com agilidade suficiente para roubar o seu mercado do dia para a noite. O risco é iminente. No entanto, ainda que criar inovação seja um caminho sem volta, nada indica que seja seguro para as empresas. A maioria das startups quebra ou não atinge os resultados esperados.


Mas há aquelas que nos inspiram, que se tornam unicórnios em menos de um ano de operação ou que revolucionam tanto nosso cotidiano que fica difícil lembrar como era a vida antes de elas surgirem.


Veja o exemplo do Nubank, que superou o valor do Itaú no IPO, em dezembro. Ok, o Itaú voltou ao posto de banco mais valioso da América Latina já em janeiro, mas a reflexão ainda é válida. Por que o Nubank não nasceu no Itaú? E é apenas um exemplo. Por que o Uber não foi criado por uma montadora? Por que a Accor não desenvolveu o Airbnb? Por que nenhum varejista internacional idealizou a Amazon?


A resposta é a mesma, para a maioria dos casos. Empresas tradicionais focam em eficiência, em melhorar o que já fazem e em fazer cada vez melhor. Com raras exceções, elas não têm as competências, mindset e cultura para criar negócios inovadores do zero.


Por isso, o Corporate Venture Building tem ganhado tanta atenção no universo de inovação. Este formato de criação de novos negócios é mais barato que o M&A tradicional e gera resultados mais expressivos que os programas de aproximação com startups.


No artigo sobre o que é Corporate Venture Building, explicamos o funcionamento do modelo e seus benefícios.


Mercados maduros, como o norte-americano e o europeu, adotam a prática há mais tempo que o brasileiro e já estão acostumados com o CVB. Por aqui, trata-se de um movimento em expansão e do qual certamente ouviremos falar muito daqui para frente. A seguir, detalho alguns desafios que necessitam ser superados para aumentar o sucesso dessa prática no Brasil.


Principais desafios do Corporate Venture Building para grandes empresas


Na minha opinião, grandes empresas em geral enfrentam três desafios principais quando falamos de Corporate Venture Building. O primeiro deles é o mindset do time. Como disse ali em cima, essas organizações têm foco em maximizar sua eficiência. Elas se tornam grandes justamente porque são excelentes no que fazem.


Peguemos como exemplo as empresas de bens de consumo, que criam marcas e novos produtos para vender aos gigantes do varejo. Elas são ótimas nisso, negociam bem, conseguem melhorar seus produtos, possuem escala e conhecem todos os detalhes da operação.


Elas aportam muito dinheiro e esforço para melhorar o que fazem. Mas são tão focadas no seu próprio negócio que têm dificuldades para explorar novos caminhos. E aqui está o desafio. Para criar inovação, o mindset precisa ser de exploração de novos negócios. E essa é uma mentalidade bem diferente.


1. Mindset de eficiência x mindset de exploração


Quando a empresa foca em eficiência e conhecimento, ela quer acertar, não dá margem para o erro. Ela planeja e cumpre. O desvio não é bem aceito. Por outro lado, o mindset da criação de negócios é como se jogar em mar aberto. É explorar, tentar coisas diferentes, pesquisar assuntos sem saber quanto tempo vai levar para encontrar uma solução (se é que há solução). São várias etapas. E pode dar tudo errado porque o erro é uma possibilidade.


Para criar inovação, é preciso ter um processo ou uma metodologia que permita fazer isso várias vezes, em várias oportunidades. E você precisa saber conduzir isso da forma mais ágil possível, com qualidade, mas sem avançar etapas desnecessárias. Um processo estruturado ajuda a explorar novas oportunidades e ir, aos poucos, aumentando o investimento naquelas mais promissoras.


Aqui na Play, sempre tentamos mostrar que é preciso fazer pequeno, preferencialmente sem envolver a marca da grande empresa, blindando o projeto como se fosse um bebê. Não é hora de chamar jornalistas para um anúncio do CEO. Meses depois pode dar tudo errado e isso vai prejudicar a imagem da iniciativa.


Por isso, a mentalidade precisa ser de reunir um grupo reduzido de pessoas inovadoras e começar pequeno, testando o problema e a solução. Quando a ideia estiver validada, aí sim será a hora de apresentá-la ao mercado. Por trás disso deve existir uma metodologia de criação que reduza o risco, diferente do mindset de otimização de eficiência, acuracidade e não tolerância ao erro das grandes empresas.


Para conhecer a metodologia da Play como corporate venture builder confira nosso post Como criar uma startup do zero em 6 passos.


2. Métricas diferentes para cada etapa do processo


O segundo grande desafio das grandes empresas no Corporate Venture Building é acertar os KPIs. Grandes empresas focam em lucro, produtividade, faturamento. Estão certíssimas, são essas as métricas que os acionistas querem ver.

Porém, para criar negócios, você precisa de outros indicadores. Na fase inicial, você precisa saber se o consumidor tem uma dor, se essa dor é relevante, se a solução que você imagina resolve essa dor, se o consumidor engaja com ela, se existe mercado e qual o tamanho dele.


Ainda não estamos falando em ROI e nem sabemos quanto vai custar. E é aqui que muitas empresas falham. Elas não sabem definir as métricas para esta etapa inicial e, ao medir os KPIs errados, muitos projetos com potencial são interrompidos antes da hora.


Dividir o desenvolvimento do negócio por fases claras e saber o que queremos validar em cada uma delas (e como o faremos isso) é fundamental para a evolução desse novo negócio.


3. Perfil de time adequado para cada fase do Corporate Venture Building


Por fim, chegamos ao terceiro grande desafio: o perfil do time para cada fase do CVB. Em grandes empresas, profissionais capazes rever processos em busca de melhorias e com foco em produtividade são mais que bem-vindos.


Negócios em fase inicial, porém, precisam de pessoas exploradoras, que conversem com muita gente, analisem cenários, sintetizem coisas abstratas e conectem assuntos análogos para chegar a uma solução. É um perfil diferente, que envolve exploração, teste, validação.


Já quando a startup encontra o famoso market-fit, entra em ação o perfil empreendedor – diferente do executivo e do explorador. Para crescer, a startup precisa de uma pessoa que junte o time, faça o comercial, gerencie canais de venda, atraia os primeiros clientes. É um perfil de desenvolvimento de negócio muito forte.


Diferentemente do perfil executivo, que tem salário e benefícios definidos, o empreendedor aposta tudo no sucesso daquele negócio, inclusive porque sua remuneração está atrelada a isso.


Um executivo de grande empresa pode tocar uma área em que não acredita muito até se recolocar internamente. O empreendedor não. Ele vai se dedicar àquilo como sua grande oportunidade profissional, sabendo que aquele negócio pode transformar sua vida. Por outro lado, se perceber que não vai funcionar, ele tem coragem de matar o negócio e partir para outro desafio.


Ou seja, encontrar os talentos com vivência para conduzir cada etapa da criação de um novo negócio requer experiência e método – que muitas vezes não são encontrados com facilidade em organizações tradicionais.


Volto a dizer: o caminho da criação de negócios é desafiador, mas obrigatório para as empresas. Esse ano chegamos ao marco de 1.000 startups unicórnios (avaliadas em mais de US$ 1 bi) no mundo. Quanto mais cedo as organizações aprenderem a criar suas próprias startups, maior será o valor gerado por elas.


Quer saber mais? Aproveite para ler nosso whitepaper Corporate Venture Building: o modelo para o futuro dos negócios e inovação para grandes empresas.


Nele, trazemos um panorama geral sobre a criação de novos negócios nos Estados Unidos e Europa, além de apresentar o modelo que vem conquistando a atenção de corporações que buscam inovar ao criar ou investir em startups com alto potencial de crescimento.

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