Empresas mais inovadoras do mundo: por que um marketplace está entre elas?
Laercio Morato • abr. 07, 2021

A Fast Company divulgou recentemente sua lista anual das 50 empresas mais inovadoras do mundo. Com pouca surpresa, Moderna e Pfizer-BioNTech (responsáveis pela criação de vacinas contra a Covid-19) ocupam os dois primeiros lugares. Chamou a atenção de muitos leitores, no entanto, o terceiro colocado do ranking: o Shopify, empresa canadense que incentiva empreendedores a digitalizarem seus negócios, especialmente através da criação de lojas online.


À frente de marcas reconhecidamente inovadoras – como Neflix, Microsoft ou Space X (do mais que popular Elon Musk) –, o Shopify é o único marketplace entre as 20 primeiras posições (a lista traz apenas mais uma plataforma de marketplace, a Farfetch, em 23º lugar). O feito levanta algumas questões: por que um marketplace aparece entre as empresas mais inovadoras do mundo? Que tipo de inovação faz com que uma de plataforma deste tipo seja considerada tão inovadora? Neste artigo, levanto algumas hipóteses.


As 10 empresas mais inovadoras do mundo em 2021


Antes de mais nada, vamos dar uma olhada na lista das 10 empresas mais inovadoras do mundo em 2021, de acordo com a Fast Company. Para elaborar o ranking, a publicação analisou as maiores empresas de diferentes setores e as soluções criativas adotadas por elas para resolver problemas.


O que é o Shopify e por que ele é considerado uma das empresas mais inovadoras do mundo


Fundada em Ottawa, em 2004, a Shopify é uma plataforma de comércio eletrônico que possibilita a qualquer pessoa criar e gerenciar uma loja online. Além de oferecer templates para a montagem da loja, a empresa disponibiliza uma série de outros recursos para suportar a operação, como definição de nome e identidade visual, integração com redes sociais, gerenciamento dos pedidos e divulgação dos negócios.


Além desses serviços “self-service”, o Shopify se diferencia de outras plataformas da categoria por oferecer um marketplace que conecta lojistas que precisam de ajuda a prestadores de serviço freelancers. Designers, desenvolvedores e especialistas em SEO são alguns dos profissionais que podem ser contratados por intermédio da plataforma.


Com mais de 1 milhão de lojas cadastradas em 175 países, a plataforma já realizou perto de US$ 270 bilhões em vendas. Segundo a reportagem da Fast Company, o faturamento do Shopify em 2020 foi 86% maior em relação ao ano anterior, atingindo US$ 2,9 bilhões.


Esse crescimento tem muito a ver com o momento pelo qual o mundo passa, em que as empresas foram praticamente obrigadas a migrarem seus negócios físicos para lojas virtuais para sobreviver à pandemia. O próprio Shopify estima um crescimento de mais de 30% no total de usuários totais setembro de 2019 e setembro de 2020.


Bom exemplo de como se comportam as empresas inovadoras, o Shopify implementou a integração para receber pagamentos via Alipay e plugin para criação de anúncios no TikTok. Mas a inovação que chama mais atenção, dentro uma das empresas mais inovadoras do mundo, é a criação do Shop App, um marketplace que permitirá que clientes finais encontrem lojas criadas com o apoio do Shopify. Para breve, a plataforma promete possibilitar também a busca de lojas físicas próximas ao local onde o cliente está.


Marketplaces e inovação


Um marketplace funciona como um shopping center virtual que reúne diversos vendedores em um único local, facilitando a procura e o acesso aos consumidores. Alguns exemplos dos maiores marketplaces globais são o chinês Taobao (do Alibaba), Amazon, Ebay e Wish.


Esse modelo de negócio inovador tem apresentado números impressionantes nos últimos anos. Só em 2020 foram gastos cerca de US$ 2,67 trilhões nos dez maiores marketplaces do mundo (um aumento de 29% no período de um ano). A cada 10 vendas online feitas no mundo, 6 são realizadas dentro de uma plataforma de marketplace.


O isolamento social, consequência da pandemia, contribui muito para a expressividade desses números. Mas não é fator isolado (neste artigo, falamos mais a respeito do boom dos marketplaces). Um movimento das principais marcas varejistas também vem incentivando o crescimento. Ao longo dos últimos anos, vimos marcas como Amazon e Walmart se posicionarem cada vez mais como marketplaces ao invés de varejistas que vendem apenas seus próprios produtos. A partir da cobrança de uma taxa, esses conglomerados permitem que outras marcas menores ofereçam os produtos dentro de seu ambiente, servindo como vitrine de divulgação.


Para se ter uma noção do tamanho desses marketplaces, estima-se que a Amazon possua mais de 9,8 milhões de vendedores cadastrados ao redor do mundo, sendo que, anualmente, mais de 1 milhão de novos vendedores passam a integrar a lista.


E quais as principais inovações que vêm impactando ou que podem impactar os marketplaces no futuro? Para manter a competitividade, as grandes marcas devem antecipar tendências e conseguir entregar a seus vendedores e, também aos compradores, uma experiência de compra e venda diferenciada. Podemos listar alguns exemplos de iniciativas ou tendências que devem influenciar o setor nos próximos anos:


– Investimento em logística


Uma inovação nem tão disruptiva ou atraente realizada pela Amazon nos últimos anos foi o grande investimento na criação de uma estrutura logística própria, facilitando o manuseio e entrega dos produtos vendidos na loja. Afinal, entregar o pedido correto e no tempo prometido faz muita diferença na experiência dos consumidores.


– Aumento da importância de uma experiência mista


Tendência em alta no varejo, vemos um aumento do que se chama de ROPO (sigla em inglês para Pesquise Online, Compre Offline). Apesar de a pandemia ter representado um desafio a esse movimento, deve ser algo que voltará com força nos próximos anos. E os marketplaces têm papel extremamente importante nisso, uma vez que passaram a ser importante fonte de pesquisa de produtos. A própria Amazon, por exemplo, é um grande repositório de reviews de itens, o que facilita a busca pelo produto ideal – mesmo que ele venha a ser comprado em uma loja física posteriormente.


– Mudança na forma de busca


A utilização de dispositivos de voz, como Alexa e Google Home, fez com que os marketplaces se adaptassem a essa tendência. Estima-se que, até 2022, o mercado de busca por voz aumente 20 vezes nos EUA, passando dos atuais US$ 2 bilhões para US$ 40 bilhões. Uma pesquisa da IBM com consumidores norte-americanos revelou que 37% deles já pesquisaram produtos através de dispositivos de voz. Outros 32% disseram que têm interesse em experimentar.


Marketplaces e o mercado brasileiro


Ainda que nenhuma marca brasileira figure na lista das empresas mais inovadoras do mundo, não ficamos para trás quando o assunto são os marketplaces. Dados divulgados pela Ebit/Nielsen apontam que 78% do faturamento do e-commerce brasileiro vem dos marketplaces (uma concentração ainda maior que a observada no restante do globo). Nos seis primeiros meses de 2020, essas plataformas faturaram 56% que no mesmo período de 2019.


Dentre os marketplaces mais importantes do país, destacam-se o Mercado Livre e a B2W (Americanas, Submarino e Shoptime), as preferidas dos vendedores. Entretanto, chama a atenção o crescimento que Amazon e Magalu obtiveram entre 2018 e 2019, com aumento de 17,5 e 13%, respectivamente, no número de lojistas.


O caso Magalu, aliás, é bom exemplo de inovação no Brasil. A empresa passou por um processo de digitalização bastante acelerado nos últimos anos, tornando-se uma das mais importantes do país em seu segmento. O reforço na área de tecnologia, batizada de Luiza Labs foi, sem dúvida, um passo importante para a implementação de um modelo mais inovador, com a criação de projetos de suporte à transformação digital. Leia mais sobre inovação aberta.


Além da mudança interna, a empresa apostou em ações para aumentar o grau de digitalização de seu consumidor, como a criação da assistente virtual Lu, que oferece suporte em todo o processo de compra. Na sequência, a empresa digitalizou suas lojas sem deixar de lado as unidades físicas, que se tornaram pontos de apoio para o processo. Além de possibilitar a retirada de produtos, as lojas físicas passaram a servir como pequenos centros de distribuição de onde partem os itens comprados online. A consequência é percebida nos números: mesmo com queda no faturamento em relação a 2019, o Magalu viu seus papéis na bolsa subirem 110% em 2020.


Não há dúvidas de que a pandemia acelerou o processo de compras online e a expansão dos marketplaces mundo afora.



Mas é igualmente inegável o fato de que esse movimento já estava em curso antes da crise provocada pela Covid-19, e assim deve continuar nos próximos anos. Na nova era do varejo, em que consumidores esperam experiências de compra cada vez mais imersivas, as marcas que captam esse desejo largam na frente e, não por acaso, são consideradas as empresas mais inovadoras do mundo – sejam elas lojas individuais ou gigantes marketplaces.

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