As startups são brancas – extremamente brancas. É o que comprova – sem surpresa, é verdade – o relatório BlackOut: Mapa das Startups Negras 2021 realizado pela BlackRocks Startups em parceria com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups).
No Brasil, país em que a maioria das pessoas se considera parda ou preta, apenas 25% das startups foram fundadas por pessoas negras (soma de pessoas pretas e pardas, de acordo com definição do IBGE).
O número representa um crescimento expressivo em relação à pesquisa de 2020, que apontava apenas 5,8% de fundadadores negros, mas ainda está longe do ideal.
A pesquisa analisou 646 startups a partir de dados referentes a região, setor de atuação, capacidade de captação de investimentos e gênero dos fundadores. Esse último com uma grande diferença entre as porcentagens – 72,4% dos fundadores são homens, contra 18,7% de mulheres.
Segundo dados do mapeamento realizado pela ABStartups em 2021, a região Sudeste concentra 51% das startups do país, porém, somente 23,2% são fundadas por pessoas negras e pardas. O estudo revela um dado ainda mais preocupante: em 28,7% das startups do Sudeste não há uma pessoa negra sequer – nem entre os fundadores, nem na equipe. Por mais que o número tenha caído 16,3 pontos percentuais (de 45% para 28,7%) em um ano, ainda é algo que chama a atenção.
Nos Estados Unidos a situação não é muito diferente. Falando especificamente sobre investimentos, a plataforma Crunchbase indica que os aportes para empresárias e empresários negros no país alcançaram US$ 1,8 bilhão no primeiro semestre de 2021. O número representa um aumento de mais de quatro vezes em comparação com o mesmo período de 2020, mas, ainda assim, responde por apenas 1,2% do total investido nos primeiros seis meses do ano.
fonte: Crunchbase
A edição 2021 do relatório Crunchbase Diversity Spotlight Report, criado exatamente para entender como anda a diversidade nas startups norte-americanas, destaca as empresas fundadas por pessoas negras e latinas que mais receberam investimentos neste ano naquele país. Confira as 5 primeiras da lista.
Fundada por Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, a Brex tem sede em São Francisco e é uma startup de tecnologia e serviços de pagamento. A empresa levantou US$ 425 milhões em aportes de capital em abril e US$ 300 milhões em outubro, elevando seu financiamento total em 2021 para US$ 725 milhões. Recentemente, a startup foi avaliada em US$ 12,3 bilhões.
A San Francisco Hinge Health, fornecedora de fisioterapia digital para pessoas que sofrem de doenças músculo-esqueléticas crônicas, foi fundada por Daniel Perez e Gabriel Mecklenburg. A empresa fechou uma série D de US$ 300 milhões em janeiro e uma série E de US$ 400 milhões em outubro. Atualmente, está avaliada em US$ 6,2 bilhões.
Fundada por Marcelo Cortes, Daniele Perito, Jeffrey Kolovson e Max Rhodes, a Faire é uma empresa atacadista online de São Francisco que conecta marcas a varejistas. Em novembro, a startup fechou uma série G de US$ 400 milhões, que fez seu valor de mercado chegar aos US$ 12,4 bilhões.
A Cityblock Health, fundada por Bay Gross, Iyah Romm, Mat Balez and Toyin Ajayi, é um provedor de assistência médica com sede no Brooklyn para beneficiários do Medicaid e do Medicare de baixa renda. A empresa levantou uma série C de US$ 192 milhões e uma série D (liderada pelo SoftBank) de US$ 400 milhões. Hoje, ela está avaliada em US$ 5,7 bilhões.
Fundada por Ade Olonoh, o Formstack é uma plataforma de produtividade no local de trabalho que ajuda as organizações a digitalizar, automatizar fluxos e corrigir processos – tudo sem código.
A empresa levantou uma rodada de financiamento de capital privado – Venture Capital – de US$ 425 milhões, liderada pela Silversmith Capital Partners e pela Providence Strategic Growth.
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Por aqui, assim como nos EUA, o cenário está longe do ideal. Um estudo da BlackRocks publicado em agosto mostra a diferença de investimentos em startups fundadas por pessoas negras e não-negras: 29,3% das empresas criadas por pessoas pretas e pardas já receberam algum tipo de aporte, contra 36% das pessoas não-negras.
Felizmente, iniciativas que tentam reverter a falta de diversidade nas startups vêm surgindo no país. O Google é dono de uma delas, o Black Founders Fund, destinado a startups que tenham fundadores ativos que se autodeclaram negros e negras, estejam constituídas e em operação no Brasil.
O fundo foi lançado para investir em empresas em estágio seed sem qualquer contrapartida ou participação societária. A duração prevista é de 18 meses, com um valor inicial de R$ 5 milhões. O objetivo do programa é ampliar a diversidade racial no ecossistema de startups e apoiar empreendedores negros e negras que estão construindo negócios com alto potencial de crescimento.
Conheça as três primeiras startups fundadas por pessoas negras no Brasil que receberam investimentos do Google Black Founders Fund.
A Afropolitan foi criada por Thiago Braziel, Valmir Nascimento e Juliana Ferreira. Os três participaram do programa Startup Zone, outra iniciativa do Google para apoiar startups, em 2019. Através de seu e-commerce, a startup quer construir um ecossistema colaborativo para a distribuição e venda de produtos de moda e cultura afro-urbana.
A plataforma Creators, fundada por por Nohoa Arcanjo e Rodrigo Allgayer, conecta profissionais criativos autônomos a empresas que precisam de seus serviços. A startup também participou do Startup Zone em 2019 e faz parte da atual turma de Residência.
TrazFavela é um aplicativo de delivery que busca fortalecer o comércio local, levando e trazendo produtos para dentro e fora das comunidades de Salvador. A startup foi criada por Iago Santos, que participou do Startup Zone no primeiro semestre deste ano.
Não há dúvidas de que o caminho para a diversidade no ecossistema é longo, mas os investimentos em startups lideradas por pessoas negras, aqui e nos EUA, mostram que o mercado está acordando para a importância do tema. Um ambiente mais diverso é melhor para todos – pessoas negras e não-negras –, já que gera mais negócios, movimenta a economia e impulsiona a inovação.
Outra iniciativa para diminuir a desigualdade racial é a Grown Startups, programa de aceleração gratuita de startups fundadas por pessoas negras, realizado pela BlackRocks Startups – empresa liderada por mulheres negras com o objetivo de promover o acesso à população negra em ambientes inovadores e tecnológicos.
O foco do programa é crescimento econômico das startups em pré-operação ou em operação, que já faturaram ou tenham usuários ou MVP rodando, e com pelo menos um dos fundadores sendo negro ou pardo. As inscrições para a terceira edição foram realizadas em fevereiro e março deste ano.
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