A ascensão das Marcas Verticais Nativas Digitais, conhecidas como DNVBs, marcou uma reviravolta na forma como as marcas interagem com seus consumidores, prometendo uma era de maior transparência, produtos personalizados e uma experiência de compra sem intermediários. Popularizadas por Andy Dunn, fundador da Bonobos (marca de moda masculina lançada em 2007), elas tinham como premissa oferecer uma experiência única e 100% digital.
A evolução do mercado e das exigências dos consumidores, no entanto, aponta para uma nova direção: o surgimento das
Omnichannel-Native Vertical Brands (ONVBs).
Neste artigo, quero explorar o percurso das DNVBs, suas limitações e o futuro promissor que os ONVBs oferecem para gestores, diretores e CEOs de olho na evolução do varejo.
O conceito de DNVB surgiu como um modelo de negócio revolucionário, em que marcas nasciam e operavam exclusivamente no ambiente digital, controlando toda a cadeia de produção até o consumidor final.
Com um foco inabalável na experiência do usuário e uma narrativa de marca coerente, as DNVBs prometeram uma nova era de consumo consciente e direto. Produtos inovadores, como colchões entregues em caixas e óculos de grau personalizados, transformaram mercados tradicionais, evidenciando o potencial desse modelo para redefinir padrões de consumo.
Apesar de seu sucesso inicial, as DNVBs enfrentam desafios significativos. A saturação do mercado digital e a crescente competição por atenção levaram a um aumento exponencial nos custos de aquisição de clientes, implodindo as margens de lucro que essas marcas buscavam otimizar.
Além disso, a dependência de plataformas como Google e Meta para aquisição de clientes criou uma vulnerabilidade crítica, deixando as marcas à mercê de algoritmos e políticas de terceiros. Se até 2014 o investimento em mídia paga nessas plataformas era uma fonte barata de tráfego, de lá para cá o seu custo triplicou.
A solução encontrada por muitas DNVBs – a abertura de lojas físicas – revelou uma ironia: ao tentar se adaptar ao modelo tradicional, essas marcas digitais enfrentaram novos desafios inerentes ao varejo físico, como gestão de inventário e experiência de marca no espaço físico.
O caso da Glossier ilustra bem isso. Fundada em 2014, a marca de beleza D2C se tornou um sucesso instantâneo entre os millenials, graças a uma base leal de seguidores, um forte engajamento orgânico e uma abordagem que priorizava o conteúdo gerado pelo usuário. O modelo ajudou a marca a crescer sua receita mais de 100% até 2019, quando começou a enfrentar uma estagnação.
A entrada tardia no varejo offline e questões relacionadas à gestão das lojas físicas são apontadas como algumas das causas do declínio da marca, que viu suas vendas nos EUA caírem 26% em 2021. Em janeiro deste ano, sua criadora admitiu,
em entrevista ao Financial Times, que sentiu a pressão de ter de evoluir de um canal de vendas único e direto ao consumidor para um modelo mais global. Hoje a marca exporta para mais de 180 países através de parceiros terceiros e tem 11 lojas próprias nos EUA e Reino Unido.
Em resposta às limitações das DNVBs, surge um modelo mais robusto e adaptável: as ONVBs. Essas marcas são concebidas desde o início com uma perspectiva omnichannel, integrando canais digitais e físicos para oferecer uma experiência de marca coesa.
As ONVBs representam uma evolução natural, alavancando as forças das DNVBs – foco no cliente, inovação de produto e comunicação direta – enquanto superam suas fraquezas através de uma presença diversificada no mercado.
As ONVBs oferecem uma oportunidade de reimaginar a relação marca-consumidor, estabelecendo uma conexão mais profunda e ultrapassando as limitações do digital. Os dados obtidos através de múltiplos canais ajudam a refinar a oferta de produtos e personalizar a comunicação de uma maneira que empresas 100% online ou 100% offline simplesmente não conseguem.
É o que fazemos, por exemplo, na GL, uma linha de perfumes e cuidados pessoais criada através de uma
parceria entre Adventures, Play e Gusttavo Lima. Ainda que uma parte expressiva das vendas aconteça nos pontos físicos, aproveitamos o digital para fazer pesquisas sobre novas fragrâncias ou nomes de produtos com os consumidores.
O nosso digital tem ainda um papel fundamental para testarmos brindes, kits e outros produtos antes de levá-los para o canal offline, que é muito mais complexo. Quando unimos esses dados obtidos digitalmente com os dos pontos de venda, temos uma visão muito mais ampla daquilo que nosso consumidor deseja. E o resultado disso, claro, se reflete em todos os canais.
Eu destaco ainda outras vantagens competitivas que o modelo ONVB tem sobre o tradicional D2C.
Embora as ONVBs representem uma evolução promissora, sua implementação não está livre de desafios. A começar pela necessidade de um investimento inicial significativo em tecnologia, treinamento e desenvolvimento de produtos adaptados a múltiplos canais de venda.
Além disso, a gestão eficaz de uma presença omnichannel demanda uma mudança cultural interna, superando as separações entre equipes digitais e físicas e fomentando uma mentalidade verdadeiramente integrada.
Por fim, a expansão internacional, embora facilitada, requer uma compreensão profunda de cada mercado novo, incluindo as preferências locais dos consumidores e a logística de distribuição.
Todos esses, acredite, são desafios que valem ser encarados. As ONVBs marcam o início de uma nova era no varejo que vai derrubar as fronteiras entre online e offline para oferecer uma experiência de compra sem precedentes. Este novo modelo não representa um futuro distante para o varejo; ele já está redefinindo o presente, exigindo dos líderes visão estratégia para aproveitar todo o potencial que as ONVBs oferecem.
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