A maioria das grandes corporações já ouviu pelo menos uma vez que “é preciso inventar o negócio que tem o potencial de acabar com seu negócio atual”. No entanto, é inegável que tirar a inovação do papel com maestria pode ser um imenso desafio. Neste artigo, explico por que as Provas de Conceito podem ajudar a superá-lo.
O legado de décadas passadas, quando a regra corrente vinculava o fato de “fazer acontecer” ao princípio de “azeitar a máquina”, no afã de se obter eficiência, hoje representa uma barreira para as grandes corporações quando estas precisam se ajustar às demandas ou capturar oportunidades de mercado de uma forma ágil.
Considere o seguinte cenário hipotético: um executivo de uma empresa já consolidada no mercado de iogurtes percebe que existe um potencial de negócio na tendência de customização e personalização dos alimentos. A fim de entrar nesse jogo, ele forma uma equipe com seus melhores profissionais para a criação de um projeto mercadológico que inclui quiosques oferecendo aos clientes a oportunidade de inventarem o sabor do iogurte na hora.
A partir do momento em que inicia o projeto, a equipe começa a identificar obstáculos para o seu lançamento: a área de marketing precisa aprovar minuciosamente tudo o que será feito em torno da marca, a burocracia interna exige que cinco processos diferentes sejam abertos e o departamento jurídico, por sua vez, levanta riscos potenciais que precisam ser endereçados. Sem contar que o fluxo de aprovação do projeto parece não ter fim.
Desta forma, o projeto que deveria ser uma iniciativa conectada a uma tendência, evolui de forma morosa e ainda gerando custos para a empresa. O mais grave é que ninguém da equipe tem certeza se vai dar certo, até porque não se discutiu qual seria o conceito de “dar certo”.
Vamos agora considerar que, ao invés de seguir esse caminho, a equipe tivesse optado por uma outra abordagem. Na primeira reunião, alguém sugere a estruturação de uma Prova de Conceito ou POC.
A POC nada mais é do que uma forma de validar (ou não) uma ideia, usando o racional de experimentos científicos. Isso implica na definição de algumas hipóteses para as quais são desenhados testes que utilizam os recursos disponíveis de forma eficiente com o objetivo comprová-las (ou não).
No caso dos iogurtes customizáveis, por exemplo, a equipe poderia definir as seguintes hipóteses: 1) O consumidor tem interesse em personalizar o sabor do seu iogurte. 2) O consumidor só se interessa em personalizar o seu iogurte se tiver à disposição muitas possibilidades de sabor para criar.
Considerando essas duas hipóteses, a equipe poderia desenhar um teste, fazendo uma campanha nas mídias sociais, lançando uma nova marca, divulgando que o seu diferencial é permitir aos clientes a criação do próprio sabor de iogurte.
O exemplo é apenas hipotético, mas transmite a importância e as vantagens da execução de uma Prova de Conceito antes de se lançar um novo negócio ou iniciativa. Além do uso eficiente dos recursos, a POC representa uma abordagem estruturada para a inovação, guiando a equipe responsável no ciclo construir – medir – aprender. E, de quebra, ainda ajuda a desenvolver a cultura do aprendizado contínuo na empresa.
Por ter um viés quantitativo de análise de dados, a POC permite a tomada de decisões baseadas em fatos e dados. Ao mesmo tempo, quando é feita com um complemento qualitativo, como, por exemplo, a execução de entrevistas em profundidade com os clientes, é possível refinar ainda mais a interpretação dos dados.
Quando bem desenhada e executada, a POC possibilita que a solução seja lançada no mercado com uma maior compreensão do público-alvo e de suas exigências, muitas vezes evitando o investimento desnecessário em atributos que não têm valor percebido pelos clientes.
Se um fornecedor é utilizado como parceiro na Prova de Conceito, é possível avaliar se seria interessante mantê-lo na fase de implementação ou não. A principal vantagem, no entanto, talvez seja evitar um alto investimento em iniciativas que somente passam a impressão de ser boas ideias quando concebidas.
Um ponto importante: empresas ainda novatas no processo de inovação, ao concluir a primeira rodada da Prova de Conceito, eventualmente podem chegar à conclusão de que realizaram o processo inteiramente e já tomam a decisão de seguir em frente com a implementação completa ou de finalizar o projeto.
No entanto, a Prova de Conceito deve ser um processo contínuo em que os aprendizados de uma rodada sejam aplicados em outra, a fim de abrir a possibilidade para novas hipóteses serem analisadas. Não existe um número mágico de interações, mas a equipe envolvida deve estar confortável com a qualidade das informações que levaram à comprovação ou não das principais hipóteses do projeto.
A fim de possibilitar as várias rodadas de Prova de Conceito, a equipe responsável se beneficiaria por conseguir um “sponsor”, com poder de tomada de decisão, e por estar atuando em uma empresa com cultura tolerante a erros.
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