Uma luva plástica cor de rosa “perfeita” para disfarçar o descarte de absorventes e tampões durante o período menstrual. A Pinky Glove foi apresentada no programa de TV Die Höhle der Löwen (A Caverna dos Leões, em tradução livre), espécie de versão germânica do norte-americano Shark Tank, programa da ABC em que os empreendedores vão apresentar suas ideias a potenciais investidores. Criada por dois rapazes alemães, a novidade conquistou nada menos do que 30 mil Euros de um dos jurados (também homem) do programa.
Não demorou nada, porém, para que as mulheres começassem a questionar a utilidade do produto e o fato de uma equipe 100% masculina desenvolver uma “solução perfeita” para “disfarçar” a menstruação sem ao menos consultar mulheres e entender o contexto do descarte de absorventes no seu dia a dia.
A repercussão negativa não apenas fez o investidor voltar atrás, mas também demonstra (da pior forma possível) o que acontece quando o processo de inovação simplesmente não considera a importância da fase de exploração, indispensável para criar qualquer produto ou serviço bem-sucedido.
Se você ainda não está totalmente familiarizado com o termo e sua relação com o processo de inovação, a fase de exploração é a aquela em que o potencial usuário é colocado no centro da atenção antes do desenvolvimento de um produto ou serviço.
É neste momento inicial que a consultoria de inovação trabalha para entender as dores, as relações e o dia a dia dos potenciais usuários da inovação. Esta fase é dividida basicamente em três etapas – exploração do contexto, análise de potenciais usuários e entendimento de insights – que vamos detalhar a seguir.
Nesta primeira etapa da fase exploratória, a consultoria busca entender o mercado, as tendências e o contexto dos potenciais usuários. É preciso ter um plano de pesquisa estruturado para compreender o mercado em que a inovação estaria inserida, quais são seus stakeholders, como ocorrem suas relações e suas interações e o que pode gerar valor nesse ambiente.
A ideia aqui é entender como a inovação pode gerar um impacto ou uma solução para o contexto como um todo.
Para essa exploração, podem ser utilizados desk research, modelos análogos, entrevistas com experts.
O objetivo principal desta fase é obter um panorama geral para não criar algo que já exista ou que não gere valor para o sistema como um todo (como uma Pinky Glove para “descarte discreto” de absorvente).
A consultoria de inovação tem basicamente dois pontos de partida para a etapa de exploração de contexto:
É nesta segunda etapa do processo em que falamos especificamente do usuário. Não é possível pensar em inovação ou criar o que quer que seja – produto, serviço, experiência – sem construir empatia, conhecer sua rotina e entender como a novidade fará parte do seu dia a dia.
Nesta etapa, é importante entender aspectos cognitivos e comportamentais, além de motivações, alegrias e desafios para que a análise do usuário tenha profundidade. Para isso, é preciso mergulhar no seu dia a dia, nas suas dores. Definitivamente, não é uma etapa que se se resolve apenas com uma pesquisa online com múltiplas alternativas, por exemplo.
A simples observação também não basta, porque é preciso navegar entre aspectos conscientes e inconscientes dos usuários para criar um serviço ou produto que de fato faça sentido para ele.
Para facilitar o entendimento, vamos usar como exemplo uma iniciativa de um grande varejista, que, em parceria com diversas ONGs, disponibilizou voluntários para fazer compras para idosos logo no início da pandemia.
A rede procurou a Play Studio para entender por que a iniciativa não tinha aderência. Os voluntários ficavam nas lojas, mas não havia pedidos.
A partir desse briefing, a Play mergulhou na fase exploratória para entender o lado do usuário, que era o público 60+.
A equipe foi para as lojas observar e estabelecer contato com o público-alvo. Em seguida, para garantir o mínimo contato presencial, realizou entrevistas individuais de forma remota.
Tanto na exploração de contexto quanto na avaliação dos usuários, as descobertas foram inesperadas. Entre as principais conclusões estavam que:
São insights de certa forma até simples, mas impossíveis de serem obtidos apenas por observação ou pesquisa online. Para chegar a eles, entendendo desafios, dores e necessidades, é preciso construir empatia e ouvir essas pessoas profunda e genuinamente.
A terceira e última etapa da exploração é o entendimento dos insights obtidos nas duas etapas anteriores e envolve um trabalho conjunto entre contexto e usuário. São esses insights que fornecem uma visão acionável para começar a criação de um produto ou serviço que atenda a uma necessidade, melhore uma experiência diária ou transforme um comportamento maléfico, por exemplo.
Mais uma vez, vamos utilizar como exemplo a inciativa da rede varejista com voluntários para fazer compras para o grupo 60+. O entendimento dos insights levou a uma redefinição da iniciativa, que foi totalmente transformada para atender à real necessidade dos usuários. Resultado: os voluntários foram dispensados e as lojas da rede criaram um horário especial para o grupo 60+, com protocolos de segurança ainda mais rígidos. Era disso, afinal, que os usuários precisavam.
O que vem depois da fase de exploração
Depois da fase exploratória, o projeto idealmente passa por um estudo de viabilidade financeira e, então, entra na linha de concepção, em que a solução ganha um formato para resolver necessidades e dores identificadas na exploração. Depois disso, é hora de criar a prova de conceito PoC e começar a testar.
Por fim, é importante entender que um bom plano de exploração, que pode ser estruturado com a expertise de uma consultoria de inovação, é indispensável para colocar o usuário no centro de todo o desenvolvimento e permitir um entendimento profundo tanto do seu contexto quanto do contexto do mercado em que o produto ou serviço estará inserido.
Esse é o primeiro passo para criar uma solução que de fato resolva um problema que existe (e não fazer como a startup alemã, que inventou um problema para supostamente apresentar uma solução).
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