Cultura de inovação na pandemia: desafios e soluções
Redação Play • mai. 25, 2021

Quase dois anos depois do surgimento da pandemia do novo coronavírus, não podemos negar que seus impactos serão mais duradouros do que imaginávamos. A crise bagunçou a economia mundial, aumentou a pressão por resultados, obrigou-nos a trabalhar em home office, normalizou as reuniões virtuais e transformou a forma como nos relacionamos profissionalmente.


Com algumas economias começando a retomar as atividades, muito se tem falado sobre o futuro do trabalho sob diversos aspectos – da configuração dos escritórios ao equilíbrio entre trabalho e saúde mental.


Recentemente, contamos em um artigo como a Play Studio se adaptou a este novo cenário, criando programas de bem-estar emocional para o time.


Aqui, tratamos do tema sob o prisma da inovação – mais especificamente, dos impactos da pandemia sobre a cultura de inovação nas empresas. Afinal, como manter a cultura de inovação neste novo cenário?


O que é cultura de inovação


Cultura de inovação corporativa é um conjunto de práticas que torna o ambiente corporativo propício à geração e a valorização de ideias que podem ser transformadas em novos produtos, serviços ou negócios para melhorar processos, reduzir custos ou transformar (para melhor, é claro) a forma como alguma coisa costuma ser feita na empresa.


Para que uma organização tenha uma cultura voltada à inovação, é preciso que a alta gestão encampe a ideia para que todos os colaboradores sejam incentivados a apresentar ideias e projetos – sem receio de ser punido ou ridicularizado e sabendo que, de alguma forma, o seu esforço em inovação será recompensado.


Mudança de foco: da inovação para a sobrevivência imediata


A pandemia isolou fisicamente as equipes em home office, praticamente acabou com as interações informais que ocorriam nos corredores e nas áreas de descompressão das companhias e fez a maior parte das pessoas enfrentar desafios profissionais e pessoais inimagináveis até então.


Acumulados, esses fatores já seriam suficientemente desafiadores para a manutenção da cultura da inovação nas empresas, mas há outro componente que não pode ser ignorado.


Durante a pandemia, as empresas reduziram seus investimentos e o foco em inovação. É o que indica, sem surpresas, um estudo da McKinsey que ouviu 200 executivos de grandes organizações espalhadas pelo mundo todo.


Neste momento em que as organizações enfrentam a crise da Covid-19 e se concentram em questões de curto prazo, o comprometimento com a inovação simplesmente despencou.


No período pré-crise, a inovação estava entre a primeira e segunda prioridade para 55% dos executivos entrevistados. Hoje, o assunto ocupa essas posições para apenas 23% deles. O dado é preocupante pois, como mostramos em outro artigo, a ausência de cultura de inovação é justamente um dos principais desafios da inovação no Brasil


E a McKinsey ressalta que a queda ficou evidente em todos os setores pesquisados, com exceção apenas da indústria de produtos médicos e farmacêuticos, em que houve aumento de quase 30% no foco imediato em inovação.

Por que a cultura da inovação é indispensável na crise


É importante observar, no entanto, que embora a maior parte das empresas esteja focada apenas na sobrevivência imediata do seu negócio, apostando na redução de custos para minimizar riscos até que a crise desapareça, outras enxergam a crise como oportunidade para se reinventar e criar modelos de negócios em novos mercados recém-inaugurados.


Clínicas médicas passaram a utilizar teleconsultas, barbearias começaram a atender ao ar livre, pequenos negócios familiares tomaram proporções que nunca haviam alcançado quando começaram a atender clientes pelo WhatsApp.


E há os casos icônicos, como o da LVMH, que converteu algumas das instalações de fabricação de perfumes, onde normalmente produz fragrâncias para suas marcas Christian Dior, Givenchy e Guerlain, para entregar grandes quantidades de gel antisséptico de mãos para hospitais.


A gigante da eletrônica Foxconn Technology Group é outro exemplo, por ter reestruturado suas linhas de produção para fabricar máscaras cirúrgicas. Também não fica atrás a iniciativa da CJ CGV, cadeia sul coreana de cinema que investiu em robôs e automatização para viabilizar uma experiência sem contato aos usuários. Neste outro artigo, mostramos mais casos de empresas que apostaram em inovação durante a pandemia.


Historicamente, são essas mesmas empresas que investem em inovação nos períodos de turbulência que tendem a ter crescimento e desempenho superiores às demais nos períodos pós-crise.


A própria McKinsey já havia observado isso na crise de 2009, quando as empresas que mantiveram o foco em inovação tiveram desempenho 30% superior à média de mercado e continuaram apresentando crescimento acelerado nos anos seguintes. Em um artigo sobre intraempreendedorismo, explicamos essa relação.


E o mesmo efeito começa a ser observado nesta pandemia. Um estudo bastante interessante que indica a relação entre a manutenção da cultura de inovação e a obtenção de melhores resultados durante a pandemia é o relatório global do Boston Consulting Group sobre as empresas mais inovadoras de 2020.


O estudo considera 45% dos seus 2.500 entrevistados “inovadores comprometidos”, ou seja, que veem a inovação como uma prioridade máxima e respaldam esse compromisso com investimentos significativos. Desse grupo, quase 60% relatam gerar uma proporção crescente das vendas de produtos e serviços lançados nos últimos três anos.


Já entre os “inovadores céticos”, aqueles não enxergam a inovação como uma prioridade estratégica nem como uma meta significativa de financiamento, a fatia dos que percebem crescimento em vendas é de apenas 30%. Entre os chamados “inovadores confusos”, que relatam um descompasso entre a importância estratégica declarada da inovação e seu nível de financiamento, essa fatia é de 47%.


Como manter a cultura da inovação na crise


Se incentivar a inovação durante a crise comprovadamente ajuda a empresa a obter melhores resultados durante e após esse período, a grande questão que se coloca é como manter essa cultura com equipes isoladas, a comunicação cara a cara comprometida e a pressão por resultados ainda mais angustiante.


Receita pronta não existe, mas alguns passos podem ajudar. Confira algumas recomendações de Caio Ramalho, coordenador do FGVnest (Núcleo de Estudos em Startups, Inovação, Venture Capital e Private Equity da Fundação Getulio Vargas).


  • É importante que a cultura da inovação permeie todas as áreas da empresa e não fique restrita às áreas de TI, novos negócios ou M&A (sigla em inglês para fusões e aquisições).
  • A inovação deve fazer parte do plano estratégico da empresa e precisa ser encampada por todos os níveis, começando pela alta gestão, conselho de administração e acionistas. “Não adianta tentar inovar sem esse apoio”, explica Ramalho.
  • É preciso definir orçamento e diretrizes para a inovação para que novos projetos sejam conduzidos de forma organizada. Para ler mais sobre a gestão da inovação diante da crise, acesse este outro artigo.
  • Inovação não deve ser confundida com transformação digital. Uma pode acelerar a outra, mas é preciso entender que são iniciativas diferentes.
  • Tenha cautela com a pressão por inovação durante a pandemia. “É preciso pavimentar o caminho e não acelerar demais o processo sem que ele esteja devidamente organizado na empresa”, alerta o professor.
  • Comunique de forma clara que ideias inovadoras continuam sendo bem-vindas e, mais do que nunca, têm potencial para tirar a empresa da crise (se for o caso, claro).
  • Crie novas rotinas para incentivar o intraempreendedorismo. Como mostramos em outro artigo, ele pode ser essencial para a recuperação das empresas. Repense também a apresentação de novos projetos. Reuniões mais curtas, com maior frequência e em grupos menores, são uma alternativa.


Por fim, se nossa forma de trabalho mudou tanto e possivelmente de forma irreversível, obrigatoriamente os processos de inovação da empresa têm de acompanhar essa mudança. O que não vale é deixar a cultura da inovação que a organização levou tanto tempo para implementar se perder entre os desafios urgentes impostos pelo novo normal.



Leia também: Nomadismo digital e inovação corporativa – todo mundo pode ganhar.


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