Inovação no prato: a revolução das foodtechs
Redação Play • jun. 01, 2021

Consumidores cada vez mais conscientes do impacto da alimentação sobre sua saúde e o meio ambiente têm feito startups e grandes empresas reverem suas opções. O resultado é uma verdadeira revolução no setor de alimentação, especialmente com o surgimento, no Brasil e no mundo, das chamadas foodtechs, empresas que utilizam tecnologia como big data, inteligência artificial e internet das coisas, entre outras, para levar inovação ao cardápio.


Neste artigo, falamos de algumas dessas inovações e apontamos quatro tendências para ficar de olho nos próximos meses.



4 tendências de inovação das foodtechs


Produtos plant-based, substituição de ingredientes químicos e até nutrição personalizada mostram que, trocadilhos à parte, o setor da alimentação é um prato cheio para a inovação. Alguns desses movimentos já são conhecidos do público em geral – e especialmente daquele preocupado em se alimentar de maneira mais saudável e sustentável –, e outros devem entrar no menu muito em breve.
 

1. Alimentos plant-based


Foi-se o tempo em que hambúrgueres à base grão de bico e almôndegas de proteína de soja eram as únicas opções disponíveis para vegetarianos e veganos. Hoje, esses consumidores podem encontrar queijos, manteiga e todos os derivados do leite, além de carne de vaca, frango, porco e peixe, reconstruídos a partir de plantas.


No Brasil, por exemplo, a pioneira Fazenda do Futuro produz toneladas de hambúrgueres de “carne” sem matar um boi sequer. O segredo? Os produtos são feitos com ervilha, proteína isolada de soja e grão-de-bico e suco de beterraba, que dá ao hambúrguer de planta a aparência suculenta e rosada típica da carne bovina.


Para chegar à textura da carne convencional, a empresa trabalhou anos no estudo da composição da carne bovina, através de inteligência artificial e testes sensoriais. O primeiro produto aterrissou nas prateleiras dos supermercados (e nos cardápios de algumas hamburguerias do Rio e de São Paulo) em 2019.


Outros exemplos são a Notco, empresa chilena que produz alternativas à base de planta para os lácteos – como sorvete, maionese e o próprio leite – e hambúrgueres. Para remover animais da linha de produção, os fundadores da foodtech criaram um algoritmo, carinhosamente batizado de Giuseppe, capaz de aprender combinações infinitas de plantas para replicar o sabor dos produtos de origem animal.


Há ainda a Beyond Meat, fundada em Los Angeles, que lançou suas primeiras carnes plant-based em 2012 e hoje tem no portfólio hambúrgueres, almôndegas, salsichas e carnes moídas. Uma das líderes do mercado global, a foodtech inova também no marketing: ao invés de mirar apenas vegetarianos e veganos, sua comunicação é voltada aos comedores de carne preocupados com o impacto da sua alimentação sobre sua saúde e a do planeta.     


Em comum, todas essas empresas têm o fato de revolucionarem a cadeia de alimentação ao propor alternativas com sabor e textura equivalentes aos de produtos de origem animal. E isso só é possível graças a outra característica comum a essas foodtechs: a inovação. Utilizando algoritmos que entendem os componentes sensoriais e nutritivos de um bife ou uma linguiça, elas aceleram um avanço tecnológico com benefícios evidentes ao planeta. 


2. Contato direto entre produtores e consumidores


Outra tendência que vem se intensificando em diversos setores, inclusive na alimentação é a desintermediação. Quando consideramos foodtechs, estamos falando do acesso direto do consumidor final ao produtor de frutas e verduras, por exemplo.


Um bom exemplo disso é o marketplace Raizs, que conecta mais de 800 pequenos produtores de orgânicos a cerca de 27 mil clientes ativos de grandes centros urbanos e fechou 2020 com faturamento 5 vezes maior do que teve em 2019.


O apoio que a Raizs oferece aos pequenos produtores vai desde o acompanhamento técnico do plantio e colheita até a comercialização dos seus itens. O interessante é que, para garantir frescor e qualidade e evitar o desperdício, a colheita só é feita após a confirmação da compra do cliente.


3. Rótulos limpos


Outra tendência que deve ganhar força é a substituição de ingredientes químicos por naturais (ou o mais próximo possível disso). Impulsionadas por consumidores em busca de uma alimentação saudável, empresas dedicadas a fornecer para a indústria ingredientes mais familiares ao grande público – como proteínas de origem vegetal, farinhas de arroz, tapioca e amidos funcionais – e livres de aditivos indesejáveis já são uma realidade. Trata-se de uma gigantesca inovação na forma como a indústria alimentícia fabrica seus produtos.


Bom exemplo é a Ingredion, companhia brasileira com atuação global que transforma grãos, frutas, vegetais e outros insumos naturais em ingredientes que tornam os biscoitos mais crocantes, os iogurtes mais cremosos e as bebidas mais saborosas e frescas. A empresa já tem clientes em mais de 120 países e emprega 11 mil pessoas.


A busca por ingredientes mais simples, conhecidos e, sobretudo, naturais, chegou inclusive ao segmento de snacks. Prova disso é a Pic-Me, uma das primeiras ventures criadas e geridas pela Play e hoje presente em mais de 5 mil pontos de venda no Brasil. Seus purês de frutas trouxeram para o Brasil um hábito de consumo já presente na Europa e nos Estados Unidos, auxiliando os cerca de 90% de brasileiros que que não consomem frutas, legumes e verduras como deveriam (de acordo com pesquisas feitas pela empresa) e tornaram-se sinônimo de categoria.


“O processo de produção dos purês foi desenvolvido para garantir a preservação dos nutrientes originais, mantendo minerais, vitaminas (com exceção da vitamina C) e fibras solúveis. É uma opção prática para quando não é possível consumir a fruta in natura”, explica Juliana Saba, responsável pelo Desenvolvimento de Produtos e Qualidade da Pic-Me.


A inovação não se resume ao processamento dos ingredientes, que segue a filosofia Clean Label. O acondicionamento dos purês também traz muita tecnologia embarcada. A embalagem, desenvolvida pela Nasa, garante um prazo de validade entre 12 e 15 meses sem nenhuma adição de conservantes ao produto. O segredo está nas quatro camadas de plástico e uma de alumínio, que vedam o contato com oxigênio, luz e umidade, permitindo tamanha conservação.


4. Nutrição personalizada


Produtos feitos sob medida para um indivíduo ou uma comunidade são a próxima grande oportunidade. E quem afirma é Stephanie Naegeli, diretora global de marketing e inovação para alimentos da Nestlé. De olho na ingestão de nutrientes de forma personalizada e orientada por dados, a gigante global de alimentos lançou no Japão a plataforma Nestlé Wellness Ambassador.


A plataforma envia aos clientes um kit doméstico para colher uma amostra de sangue que será analisada pelos parceiros comerciais da empresa. As amostras de DNA permitem identificar a suscetibilidade de um cliente a níveis altos de colesterol e diabetes, por exemplo, e medem os níveis de nutrientes.


Desde sua introdução no país, o programa já conquistou cerca de 100.000 usuários, que recebem recomendações sobre sua saúde – de ajustes na atividade física a melhorias na ingestão de nutrientes. É neste ponto que entra a Nestlé, oferecendo suplementos especialmente formulados para os participantes do programa. O pacote anual – que inclui chás, cápsulas, smoothies e lanches fortalecidos – pode custar cerca de US$ 600.


Se uma ou duas décadas atrás a ideia revolucionar a forma como nos alimentamos podia soar como um discurso vago de alguma startup desconhecida, as tendências apontadas ao longo deste artigo provam que de vago esse movimento não tem nada. Se até a maior multinacional da alimentação no mundo está investindo suas fichas no conceito, podemos esperar que nosso arroz com feijão de todo dia chegue à mesa, cada vez mais, guarnecido com inovação.


Leia também: O crescimento das femtechs


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