O que é ambidestria organizacional? O segredo de empresas ambidestras
O conceito de ambidestria organizacional não é novo, mas segue muito relevante para empresas que buscam equilibrar inovação e eficiência operacional. Frente ao cenário econômico desafiador e à disrupção de segmentos tradicionais com novos modelos de negócios, a necessidade dessas organizações se tornarem ambidestras se mostra latente.
Nos modelos tradicionais, normalmente víamos, de um lado, companhias que só direcionaram esforços para resultados imediatos. Do outro, aquelas que abdicaram de melhorias contínuas em seus produtos em nome da inovação radical.
A ambidestria organizacional representa uma terceira categoria: empresas que dominam o equilíbrio entre a eficiência operacional e a exploração de novas oportunidades. Assim como no modelo dos Horizontes de Inovação, são aquelas que visam o curto e também o longo prazo para inovar em harmonia com o core business para alcançar uma gestão mais abrangente e eficaz.
Ao longo deste artigo, explicaremos tudo sobre o conceito de ambidestria organizacional, dos pilares aos desafios e vantagens para empresas que buscam implementá-la. Acompanhe a leitura.

O que é ambidestria organizacional?
Em resumo, é o conceito que enfatiza a importância do equilíbrio entre a eficiência operacional e a capacidade de inovação de uma empresa. Se refere à gestão de duas competências aparentemente contraditórias – exploração e explotação –, mas que são complementares para o sucesso a longo prazo.
No sentido literal da palavra, ambidestria significa a habilidade de utilizar ambas as mãos ou os pés com o mesmo talento. Dessa forma, assim como uma pessoa ambidestra, uma instituição ambidestra também dispõe dessa habilidade, mas em conceitos corporativos e não físicos.
O termo ambidestria foi relacionado ao ambiente corporativo pela primeira vez em 1976 pelo americano Robert Duncan. Mais tarde, Michael Tushman e Charles O’Reilly publicaram o artigo
Ambidextrous Organizations: Managing Evolutionary and Revolutionary Change.
O tema se tornou ainda mais debatido quando o livro O Dilema da Inovação de Clayton Christensen foi lançado.
Quase meia século depois, a ambidestria corporativa ainda segue sendo objeto de desejo das corporações. Isso porque as
empresas ambidestras conseguem explorar novas oportunidades sem deixar a excelência operacional
do seu core business de lado. Ou seja, investem em inovação disruptiva pensando no futuro e, ao mesmo tempo, implementam melhorias contínuas em suas operações atuais.
Ambidestria e inovação andam lado a lado. Para fazer isso da melhor forma possível, no entanto, as corporações precisam dominar a relação entre exploração e explotação.

Fonte – adaptação do livro Invincible Companies, Strategyzer
Exploração e explotação: os pilares de uma organização ambidestra
O que pode ser visto como segredo de sucesso das empresas ambidestras é mais simples do que parece. Diferentes citações sobre o tema apontam para o equilíbrio entre melhorar o que já dá certo e inovar no incerto. Dessa concepção, partem os dois pilares da ambidestria organizacional: exploration e exploitation.
- Exploração: é a abordagem proativa de identificar e experimentar oportunidades emergentes visando gerar valor sustentável por meio de inovações disruptivas.
- Explotação: trata-se do aprimoramento contínuo dos processos e recursos existentes, com objetivo de gerar valor por meio da eficiência operacional, melhorias e inovação incremental.
A exploração ainda inclui a análise de tendências de mercado, desenvolvimento de produtos e
serviços inovadores. Além disso, também aborda a adoção de
estratégias que garantam a viabilidade e a competitividade do negócio a longo prazo.
Por outro lado, a explotação envolve o refinamento de produtos, serviços e operações atuais, garantindo a excelência no presente. Neste caso, o foco está na estabilidade, eficiência e resultados de curto prazo.
O livro Lean Enterprise traz os dois pilares através de uma dinâmica que reflete em sete fatores essenciais de qualquer organização. Confira na tabela abaixo.
Fator | Exploração | Explotação |
---|---|---|
Estratégia | Inovação radical e Corporate Venture Building para criação de novos negócios | Inovação incremental e aprimoramento de produtos e serviços |
Pessoas | Equipe pequena multifuncional, multidisciplinar, intraempreendedora e autônoma | Diversas equipes operacionais alinhadas à visão estratégica do negócio |
Liderança | Visionária, envolvida e ágil | Rígida e burocrática muitas vezes |
Cultura | Alta tolerância para experimentação e tomada de riscos, aceitação do fracasso, foco no aprendizado | Melhorias incrementais e otimização com foco na qualidade e satisfação do cliente |
Gestão de riscos | O maior risco é não atingir o Product Market Fit | Um conjunto mais complexo de compensações específicas para cada produto ou serviço |
Objetivos | Desbravar novos mercados e descobrir novas oportunidades | Maximizar o market share e lucro naquele mercado específico, superando os concorrentes diretos |
Medição de sucesso | Alcançar o Product Market Fit | Superar o forecasting alcançando metas e objetivos planejados |
Cultura, processos, liderança ambidestra e outros desafios da ambidestria organizacional
A tarefa de balancear as inovações incrementais e radicais em um portfólio, porém, não é simples. Antes de qualquer coisa, é necessário que a ambidestria seja estrutural, partindo das lideranças até a base operacional.
“A cultura da organização tradicional é remunerar os executivos por resultados de curto prazo. Se não houver uma mudança de pensamento, é muito difícil que a empresa consiga alcançar um alto nível de inovação”, analisa Rodrigo Bürgers, Managing Partner da
Play Studio.
Uma
liderança ambidestra é aquela que sabe gerir a dualidade entre exploração de novas ideias e a explotação de recursos que já existem. Isso de acordo com sua capacidade e portfólio de inovação.
Ao considerar diferentes pontos de vista e abraçar ideias divergentes, o líder ambidestro é capaz de
promover uma cultura de inovação e aprendizado mais forte sem comprometer a eficiência do core business. Como resultado, a companhia se torna mais ágil, adaptável e competitiva, superando obstáculos de curto prazo e pronta para os desafios do futuro.
“Investir em inovação e novos negócios parece ser contraintuitivo por ser algo que não se sabe o resultado. Porém, com tantos casos de disrupção em diferentes mercados, podemos concluir que
ficar parado é muito pior do que explorar, mesmo que com pouco investimento”, finaliza Rodrigo.
Ambidestria organizacional e o futuro da inovação pela criação de novos negócios
Com o fim da “era do dinheiro fácil”, as corporações tradicionais já se movimentam para surfar na onda que, até então, era restrita apenas às startups inovadoras. No entanto, para isso é preciso investir em inovação e criar novos negócios.
Os
spin-offs corporativos, assim como as unidades de negócio e as
Joint Ventures, parecem ser o grande movimento das companhias, que agora voltam suas atenções ainda para a exploração de novas oportunidades visando aproveitar o gap deixado pelas startups.
A gestão e os processos que envolvem o desenvolvimento de negócios, porém, não são os mesmos da operação tradicional nas grandes empresas.
De acordo com Rodrigo Bürgers, “a inovação depende de talento, mas também de metodologias,
ferramentas e processos diferentes. Uma liderança ambidestra precisa prover recursos, alinhar o novo negócio de acordo com a visão estratégica da companhia e blindar essa unidade para garantir que ela consiga operar de maneira autônoma em busca de seus próprios resultados”.
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As 6 vantagens de uma empresa ambidestra
Em resumo, ao equilibrar inovação e eficiência operacional, uma organização ambidestra pode desfrutar de vantagens competitivas significativas, como:
- maior capacidade de inovação;
- mais agilidade, flexibilidade e adaptabilidade frente à dinâmica da mudança nos negócios;
- excelência operacional ao otimizar processos e recursos com foco na explotação;
- crescimento sustentável através da identificação de oportunidades de crescimento em ambos os âmbitos – exploração e explotação;
- visão de curto, médio e longo prazo cobertas por uma estratégia mais abrangente;
- mais aptidão para equacionar riscos balanceando investimentos de maneira mais eficiente em seu portfólio de inovação;
O desejo pela ambidestria organizacional não acontece por acaso. Ao adotar uma abordagem ambidestra, empresas e executivos lideram suas empresas rumo a um futuro mais promissor e resiliente. Assim, é possível garantir sucesso a longo prazo e criação de valor contínuo para seus stakeholders.
Afinal, assim como a Blockbuster sequer enxergava a Netflix como concorrente no início, pode ser que a sua companhia ainda nem conheça a responsável por "disruptar" seu mercado em um futuro próximo.
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