Os últimos anos mostraram que o cenário global dos negócios está cada vez mais volátil. As sequelas econômicas pós-pandemia aliadas às incertezas da guerra na Ucrânia acenderam um sinal de alerta nas grandes corporações.

A competitividade está maior e a necessidade por inovação e diferenciação é cada vez mais latente. Agora, frente ao momento desafiador, cabe às corporações descobrir caminhos para inovar. E, ao que parece, as multinacionais mundo afora já indicam um caminho: os spin-offs corporativos.

Mas o que é uma empresa spin-off? O termo representa um negócio criado a partir de uma companhia já existente.

Gigantes como General Eletric (GE) e Intel ganharam repercussão internacional ao anunciar cisão para criar duas spin-offs em 2022. Respectivamente, GE Healthcare e Mobileye reforçaram a tendência que já é vista como uma obsessão pelos investidores em Wall Street.

Assim, na busca por explorar ideias, diversificar e criar novos modelos de negócio, os spin-offs estão oficialmente no mapa.

Por isso, preparamos este artigo completo para apresentar o conceito, trazer exemplos e explicar como funciona na prática. Acompanhe a leitura.

O que é e como funciona uma empresa spin-off?

Ao falar sobre spin-offs corporativos, também é preciso listar outros termos comuns a quem busca por esse assunto: spin-offs acadêmicos, unidades de negócios, M&As e Joint Ventures. Confira as diferenças a seguir.

Uma spin-off acadêmica é como uma empresa desenvolvida dentro de uma universidade – ou outra instituição de ensino – para conectar alunos e suas pesquisas com o mercado. Através desse tipo de negócio, os estudantes dão os primeiros passos no empreendedorismo.

Os M&As – Mergers and Acquisitions, em inglês – se referem a uma aquisição ou fusão. Trata-se justamente do movimento contrário, quando uma companhia adquire uma startup ou outra empresa e a incorpora à sua operação.

Na maioria das vezes, uma empresa adquirida passa a ser uma unidade de negócios da corporação. No entanto, é importante frisar que nem sempre as fusões e aquisições são o melhor caminho.

Já uma unidade de negócios – também conhecida como Business Unit (BU) – é vista como uma alternativa ao spin-off corporativo. O serviço, produto ou negócio atua sob a guarda da corporação, sendo uma espécie de departamento ou setor.

Por fim, as Joint Ventures são empresas criadas a partir de um acordo entre duas ou mais companhias.

O ato de separar uma empresa da outra não é simples, mas há diversos casos em que a cisão foi benéfica para ambas as partes. Negócios como o Paypal, o Playstation e Smiles são exemplos de spin-off de sucesso que conseguiram evoluir ainda mais – e mais rápido – após se separarem de suas empresas-mãe. Abaixo, detalhamos esses casos.

Vendido para a gigante do e-commerce norte-americano em 2002, o Paypal fez parte do portfólio interno de negócios do Ebay durante mais de uma década. Só em 2014 é que a empresa concluiu sua cisão, tornando-se oficialmente um dos primeiros grandes spin-offs a ganharem repercussão.

À época, o então CEO do Ebay afirmou que já não fazia mais sentido as duas empresas estarem sob a mesma administração. A visão de longo prazo os levou à decisão de separá-las.

“Como empresas separadas e independentes, terão um foco mais nítido e maior flexibilidade para buscar o sucesso futuro em seus respectivos mercados globais de comércio e pagamentos. Estou confiante de que as empresas têm a equipe de liderança, estratégia, estrutura e disciplina operacional certas para criar valor sustentável e de longo prazo para os acionistas e oferecer grandes oportunidades e experiências para clientes em todo o mundo”.

Após quase dez anos da separação, é possível dizer que um spin-off pode ser a "criatura que superou seu criador". Enquanto a receita anual do Ebay cresceu apenas 11% – até 2022 –, a do Paypal mais do que dobrou. A empresa de pagamentos foi de U$8 bilhões (2014) a U$27,5 bilhões (2022) em receitas anuais no mesmo período.

Um dos exemplos de intraempreendedorismo mais reconhecidos do mundo, o Playstation também faz parte da lista de empresas spin-off que alcançaram o sucesso.

Após liderar com folga o market share de consoles, a Sony viu a Microsoft se aproximar com o lançamento do Xbox One, em 2013. Alguns anos depois, em 2016, a empresa oficialmente anunciou que sua divisão de games seria separada do negócio principal.

O objetivo era “acelerar ainda mais o crescimento do negócio Playstation”, de acordo com o CEO da Sony Computer Entertainment à época. Assim, surgiu a SIE – Sony Interactive Entertainment.

Em vez de ser apenas uma parte do planejamento estratégico do grupo japonês, a SIE passou a focar 100% dos esforços em produtos e serviços do ecossistema multimídia do Playstation.

Após o lançamento do Playstation 5, em 2020, a SIE voltou a aumentar sua liderança e a alcançar mais de 87% do market share global de consoles. Veja no gráfico abaixo.

Multiplus e Smiles: os programas de milhas que se tornaram negócios bilionários

Na busca por novas fontes de receita, as companhias aéreas investiram pesado no desenvolvimento de seus programas de fidelidade. O resultado positivo fez com que duas das maiores aéreas da América Latina, Gol e LATAM, transformassem seus programas, Smiles e Multiplus, respectivamente, em empresas spin-off.

O objetivo principal foi expandir para que os clientes pudessem coletar e utilizar pontos em viagens por diferentes companhias aéreas. Os programas deixaram de ser apenas um serviço das empresas para se tornarem negócios independentes e poderem expandir ainda mais.

Alguns anos depois, tanto LATAM quanto Gol optaram por reincorporar ambos os programas. O motivo: potencial de geração de caixa e lucratividade desses negócios.

O movimento foi apontado por especialistas como uma correção de rota, visto que as aéreas sofrem para gerar caixa, enquanto negócios como Smiles e Multiplus são altamente lucrativos.

A incessante busca de grandes companhias por estratégias de inovação e novas fontes de receita muitas vezes esbarra justamente na falta de cultura de inovação. Pouca flexibilidade, raros testes e pouco investimento – de tempo e dinheiro – limitam descobertas que possam revelar caminhos para inovar.

A tendência dos spin-offs, no entanto, tem feito com que esse cenário mude, e o Corporate Venture Building (CVB) se encaixa perfeitamente na necessidade de criação de novos negócios.

O modelo envolve todo o processo desde a exploração de ideias e a concepção de um MVP para testar e validar ideias com potencial de negócios. Feita para grandes empresas, essa metodologia ganha cada vez mais espaço e já transforma a maneira com a qual as corporações traçam seus objetivos de inovação.

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